Gastos Exorbitantes Consumo de Álcool e Megalomania no Transtorno Bipolar
Embora a megalomania seja uma entidade psicopatológica distinta
e já muito bem conhecida e estudada, a realidade é que
indivíduos bipolares autênticos podem apresentar comportamentos
mórbidos que podem ir bem além das já bem conhecidas expressões
da megalomania.
Digo bipolares autênticos porque não faltam exemplos e casos de
pessoas que já me procuraram julgando serem bipolares (ou tendo
sido diagnosticadas como) e que na realidade não eram bipolares.
Infelizmente, assim como acontece com a depressão, o diagnóstico
da bipolaridade encontra-se consideravelmente vulgarizado.
Afirmo, sem a menor hesitação, que os prejuízos da megalomania
(mania - ou ideação - de grandeza) tendem a ser bem menores do
que os prejuízos causados pela megalomania bipolar nos estados
de mania do Transtorno Bipolar. E de modo especial (e terrível)
os gastos financeiros de uma pessoa bipolar em estado de mania
(e também de hipomania), frequentemente parecem algo
completamente absurdo diante dos olhos de pessoas que já
assistiram a um terrível festival de gastanças exorbitantantes e
até mesmo impressionantes. E tudo isto pode se agravar
grandemente se entrar em cena o álcool etílico, em minha opinião
técnica, o maior inimigo dos bipolares.
Gastos com compras absolutamente sem sentido, investimentos
tresloucados, presentes extravagantes para amigos ou familiares,
dívidas impressionantes, grandes despesas completamente
desnecessárias, abuso de empréstimos e do cartão de crédito,
destruição do orçamento familiar, dentre outros, muitas vezes
são francas expressões do que chamo de megalomania bipolar com
gloriosa destruição de dinheiro.
Tive a oportunidade de tratar de um paciente muito simpático, um
homem gordo e corpulento, sorridente e de falar sedutor, o qual
em estado de mania bipolar conseguia chamar a atenção para si de
modo notável. O problema era que, uma vez cercado de atenção e
dando ele próprio cordas ao seu próprio comportamento
autodestrutivo, fosse segunda-feira ou sábado, tudo terminava em
festa, ... e em dívidas, em muitas dívidas. Era sempre o centro
das atenções e sempre fazia questão de pagar a conta. E por
vezes... que volumosas contas!
Seus amigos o “amavam”, porém não o compreendiam, pois o que a
outros olhos poderia passar como um simples comportamento
extravagante, na realidade eram estados de mania severa onde
suas finanças eram, repetida e severamente, golpeadas. Por
vezes, completamente devastadas. Algo muito triste!
Neste caso particular, tudo piorava se o paciente ingerisse
álcool. Havia, invariavelmente, uma exacerbação mórbida de seu
estado, o que o levava a se comportar como se fosse um autêntico
milionário, porém, não sendo. E nestas horas, não faltam
bajuladores e aproveitadores.
Interessante e tristemente, a releitura de sua real condição
financeira, passados dias ou semanas após sua descompensação,
pareciam ser não somente a gota d’água para o seu muito
sofrimento, mas era o fator desencadeante mais frequente que o
conduzia a estados depressivos com sofrimentos lancinantes. Eram
muito grandes as suas dores.
Tudo era agravado pelo abandono dos “amigos” pela sensação de
espanto de seus familiares e também pelo desdém como por vezes
era tratado até mesmo por pessoas que eram alvo de sua
“generosidade” nos momentos de crise (surtos).
Faço aqui questão de ressaltar os graves prejuízos para sua
doença e pessoa causados pelo consumo de álcool. Não era um
etilista, mas um bipolar autêntico que simplesmente não
conseguia manejar adequadamente o ato de beber, nem a sua
sexualidade (hipersexualidade) e nem a administração de seu
próprio dinheiro. Para ele, especialmente em momentos de
frustração, começar a beber e a gastar era como que uma
equivocada fuga da leitura que fazia de si próprio.
Infelizmente, nesse caso, a bipolaridade era como o estopim da
bomba de seus sofrimentos. Bastava acender o estopim e o caminho
rumo à devastação financeira tinha quase sempre um início
semelhante. Mecanismos de compensação ou de autogratificação à
parte, a doença bipolar possui componentes característicos
únicos e absolutamente inconfundíveis, especialmente, e como já
dito, se agravada pelo consumo de álcool.
Sua generosidade dava lugar ao exagero, ao bizarro e ao absurdo
em se tratando de destruir dinheiro. E, repito, o álcool era seu
pior inimigo, algo como o lançar de gasolina sobre uma casa já
em chamas.
O gastar excessivo, a hipersexualidade, a megalomania e a
necessidade patológica por atenção são comportamentos muitas
vezes diretamente associados ao Transtorno Bipolar.
O tratamento precoce é a melhor medida antes que a ruína
financeira se instaure em situações como a supracitada.
Finalizando, e aqui também alertando, bipolaridade e álcool é
uma das piores associações que alguém pode conseguir conceber!
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Dr Eduardo Adnet
Médico Psiquiatra e Nutrólogo